MEDALHA DE PÉROLA
O ex-bóia-fria de Cruzeiro D’Oeste está
feliz. A expressão compenetrada do atleta esconde um secreto sorriso de
vitória. Uma olhadela por sobre os ombros revela que seus competidores
estão longe, muito longe. Passadas ritmadas vão comendo o asfalto.
Vanderlei Cordeiro de Lima não vem de uma batalha, mas vai ao encontro de uma. Entre ele e o Ouro no estádio de Kallimarmaro – o “melhor mármore” – há um adversário circunstancial chamado Cornelius Horan. A pista é invadida e, numa fração de segundo, aquele que corria rumo à vitória desaba no chão. É o fim. Mas ele se levanta, mas chega em terceiro.
Ninguém quer menos que a vitória. É por ela que corremos. Fomos condicionados a tirar dez nas provas, ser o mais rico, o mais feliz, o mais bonito. Ninguém quer ser vice. Vivemos de olho no Ouro.
Por que
será que não nos ensinaram que existe mais? Por que nunca nos falaram da
Medalha de Pérola?
Freada brusca não acontece só em Atenas. Quando menos esperamos somos agarrados, contra a vontade, por circunstâncias que nos lançam ao chão. É complicado levantar e retomar o ritmo enquanto assistimos, impotentes, o Ouro e a Prata passando por nós.
Na maratona da vida não existe podium intermediário. Só um no fim. Enquanto não chegar lá, nem pense que sua corrida terminou.
A vida está cheia de derrotas e “se a vida na Terra fosse boa ninguém iria
querer viver no Céu”. Prefiro o Livro que narra uma aparente derrota – que se transforma em linha de partida e de chegada,
não de vencedores, mas de “mais que vencedores”.
A lista dos incidentes que podem ocorrer na maratona da vida é interminável. Todos experimentamos alguns dos mais comuns: a perda de alguém, uma demissão inesperada, uma doença que nos invalida ou uma falência não requerida.
A derrota está à distância de uma queda da
vitória, não importa sua estatura.
Todos nós já experimentamos dessas puxadas de tapete que causam guinadas. Porém descobrimos depois que o aviso do aluguel vencido, seria a largada para os cem metros rasos que me separavam de um lugar melhor.
Ou que o anúncio do
chefe, de que os custos a serem cortados incluíam minha cabeça, serviria
de vara para um salto muito maior.
casamentos.
casamentos.
ser mãe de três filhos,
inclusive um especial, para conservar UM “Lar Doce Lar”.
Na hora da queda, de nada adianta ficar agarrado ao irlandês das circunstâncias. É preciso continuar correndo para deixá-lo para trás. Se o fracasso apenas nos derruba, é a nossa ocupação com ele que nos derrota.
Para as ostras, a adversidade vem quando literalmente entra areia. Se você se irrita com uma pedrinha no sapato, imagine a ostra, que é toda sapato. Mas a adversidade que a machuca serve de estímulo para ela deixar a zona de conforto – se é que ostra vive confortável. Seu organismo libera substâncias que transformam a adversidade em algo mais belo e resistente do que o Kallimarmaro, sem as incômodas arestas da derrota. É assim que surgem as pérolas.
No dia seguinte à maratona olímpica todos os jornais do mundo traziam a foto do vencedor na capa. Não, não estou falando do italiano que ganhou a Medalha de Ouro – qual era mesmo o seu nome? Estou falando daquele que transformou a adversidade em vitória, o perdão em exemplo e escreveu seu nome na história. O brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima que ganhou a Medalha de Pérola nas Olimpíadas de Atenas.
—– Mario Persona www.mariopersona.com.br
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